Morre Mario Vargas Llosa: relembre sua obra literária e sua trajetória no jornalismo

Mario Vargas Llosa, uma das figuras mais influentes da literatura e do pensamento global, que morreu no dia 13 de abril aos 89 anos, deixou como legado obras literárias monumentais e também uma trajetória marcante no jornalismo, que consolidaram sua posição como um dos mais reconhecidos intelectuais do século XX. 

Assim como Gabriel García Márquez — outro expoente do chamado “Boom Latino-Americano” e também laureado com o Nobel de Literatura —, Mario Vargas Llosa teve na atuação jornalística uma de suas marcas mais duradouras, paralela à carreira de romancista.

Entre suas contribuições estão clássicos como Conversación en la Catedral e La ciudad y los perros, e também suas incisivas colunas em jornais como o espanhol El País e no brasileiro Estadão.  

Da crônica policial à análise internacional:  Mario Vargas Llosa no jornalismo  

Antes de se consagrar como romancista, Vargas Llosa iniciou sua trajetória como repórter policial no jornal La Crónica, em Lima, aos 15 anos.

Sua função era cobrir casos criminais e observar os detalhes da realidade ao seu redor, um trabalho que o ajudou a desenvolver suas habilidades de escrita e sua visão crítica da sociedade peruana.

Essa experiência inicial deixou marcas profundas em sua literatura, muitas vezes refletidas em temas como injustiças sociais e regimes autoritários.

Além disso, teve empregos curiosos antes de alcançar a fama, todos ligados ao universo das palavras: revisava nomes em lápides de cemitérios no Peru e ensinava idiomas na escola Berlitz, em Paris.

Mais tarde, atuou como correspondente internacional, escrevendo para veículos na Europa e na América Latina sobre eventos históricos, como a Revolução Cubana e os movimentos de independência na África.

Seus textos no jornalismo uniam observação aguçada e análise crítica — características igualmente presentes nas principais obras de Mario Vargas Llosa.

Paris e as primeira obra literárias de Mario Vargas Llosa reconhecida no mundo

Em 1959 o escritor mudou-se para Paris, onde viveu uma fase crucial de sua carreira. Trabalhou na Agence France-Presse (AFP), como tradutor e correspondente do serviço hispanófono, ao mesmo tempo em que desenvolvia seu primeiro romance.

Foi lá que nasceu o premiado La ciudad y los perros. O reconhecimento internacional viria logo em seguida, impulsionado pelo tom crítico e inovador do livro.

A experiência de Mario Vargas Llosa em Paris é considerada elemento fundamental que expandiu sua visão de mundo e consolidou a profundidade narrativa presente em tantas das e suas obras.   

Contribuições ao jornalismo brasileiro e espanhol

No Brasil, Vargas Llosa manteve uma coluna regular no jornal Estadão, onde refletia sobre política, cultura e literatura. Seu último texto, publicado em fevereiro de 2024, abordou a importância da verdade no jornalismo contemporâneo.

Já no jornal espanhol El País, escreveu por mais de três décadas a coluna quinzenal “Piedra de Toque”.

Encerrada em dezembro de 2023,  a coluna reuniu textos que discutiam temas como política internacional, questões sociais, cultura e liberdade individual.

Seu legado jornalístico é tão relevante quanto literário, e muitas vezes, as fronteiras entre ambos se dissolviam.

Mario Vargas Llosa e Gabriel García Márquez: Uma Rivalidade Literária

Curiosamente, sua presença na imprensa foi similar à de Gabriel García Márquez, o Gabo, outro ícone do “Boom Latinoamericano”, um movimento que popularizou a literatura da região no mundo.

Ambos eram mais do que romancistas; eram cronistas de sua época, usando a imprensa para dialogar com o mundo.

A relação entre os dois, porém, foi marcada por altos e baixos. Amigos próximos nos anos 1960 e 1970, tornaram-se rivais após um misterioso rompimento, culminado por uma briga física em 1976, na Cidade do México.

Gabo, que recebeu o Nobel em 1982, 28 anos antes de Vargas Llosa, foi um ponto de comparação constante na vida deste último.

Controvérsias: O Caso Pandora e Outros Episódios 

Conhecido por suas opiniões fortes e personalidade marcante, o escritor não esteve livre de cobertura negativa ao longo de sua vida.

Seus vários casamentos e aspectos de sua vida pessoal frequentemente atraíram atenção da mídia. Ele chegou a se candidatar a presidente do Peru em 1990, mas perdeu para Alberto Fujimori e mergulhou novamente na literatura. 

No entanto, o episódio mais significativo foi sua menção nos Pandora Papers, uma investigação global sobre empresas offshore.

Em 2015, Vargas Llosa foi listado como titular da Melek Investments, registrada nas Ilhas Virgens Britânicas, usada para gerenciar receitas de direitos autorais e vendas de propriedades em Londres e Madri.

Segundo sua agência literária, a estrutura foi criada por um banco de investimentos para proteger sua privacidade durante o divórcio.

Em 2017, ao se tornar residente fiscal na Espanha, ele declarou seus ativos às autoridades fiscais, e a empresa foi dissolvida. Vargas Llosa sempre afirmou que essas estruturas eram administradas por terceiros e não envolviam irregularidades.

Mario Vargas Llosa: Obras que Marcaram Gerações

Mario Vargas Llosa recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 2010. A Academia Sueca o honrou por sua “cartografia das estruturas de poder e imagens afiadas da resistência, revolta e derrota do indivíduo”.

Ele deixou uma vasta produção literária que inclui romances, ensaios e peças teatrais. Entre suas obras mais conhecidas, destacam-se:

  • La ciudad y los perros (1963): Este romance, ambientado em uma escola militar peruana, é um retrato cruel das hierarquias e injustiças de uma sociedade autoritária. Foi sua estreia literária e imediatamente o colocou como uma das vozes mais importantes da América Latina.
  • La casa verde (1966): Uma narrativa intricada que entrelaça várias histórias, mostrando a complexidade da vida nas regiões amazônicas do Peru e a interação entre culturas.
  • Conversación en la Catedral (1969): Considerada por muitos sua obra-prima, este romance explora o Peru sob um regime ditatorial. Com uma estrutura narrativa sofisticada, o livro investiga os efeitos da corrupção e da opressão sobre a vida humana e a sociedade.

Outros títulos, como Pantaleón y las visitadoras e La fiesta del chivo, também conquistaram o público e a crítica, consolidando Vargas Llosa como um dos maiores romancistas do século XX e um observador atento da sociedade, seja por meio de suas narrativas ficcionais, seja por seus ensaios e colunas.

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