Greenhushing: como as empresas podem silenciar ainda mais os avanços em sustentabilidade na era Trump

Selo canal Planeta na Mídia MediaTalks informações sobre mudanças climáticas e sustentabilidade ambientalApós a vitória de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, empresas sediadas no país podem estar se preparando para embarcar ainda mais na tendência de não divulgar metas e ações de sustentabilidade ambiental, uma prática batizada de greenhushing.

Durante a corrida eleitoral, o candidato prometeu medidas que incentivariam a exploração de combustíveis fósseis. O republicano também teceu uma série de ataques direitos à leis de preservação ambiental, e nomeou para a sua equipe de governo nomes conhecidos pela oposição a políticas climáticas. 

Estas políticas, apoiadas tanto por estados republicanos quando pelo eleitorado de Trump, podem desestimular ou ainda desfazer completamente progressos econômicos e de sustentabilidade incentivadas pelo ESG — mesmo com empresas reconhecendo o impacto das mudanças climáticas em seus negócios.

O que é greenhushing — e por que isso importa

Greenhushing é uma expressão criada a partir da junção dos termos “green” (verde) e “hushing” (silenciamento), e que corresponde ao movimento das empresas de silenciarem suas medidas em prol da preservação ambiental.

A prática é similar ao “greenwashing“, em que empresas maquiam as suas práticas para parecerem mais sustentáveis. A diferença neste caso é que as empresas sequer esclarecem como estão agindo em relação às suas metas.

Em um artigo sobre a prática na revista FastCompany, Xavier Font, professor de marketing de sustentabilidade na Universidade de Surrey, no Reino Unido, que estuda o tema, relatou ter visto esse termo pela primeira vez em 2017.

Mas ele ganhou mais visibilidade após um relatório publicado pela consultoria ambiental suíça South Pole em janeiro de 2024.

A maioria das empresas pesquisadas em nove dos 14 principais setores relatou estar diminuindo intencionalmente suas comunicações climáticas. O relatório foi produzido com base em entrevistas com mais de 1,4 mil empresas de 14 setores em 12 países.

A South Pole constatou que a tendência de “greenhushing” está presente em quase todos os principais setores do mundo, da moda à tecnologia.

A maioria das empresas (81%) disse saber que comunicar a eliminação de emissões é bom para seus resultados financeiros, mas mais da metade (58%) daqueles que estão achando tão difícil ou mais difícil do que antes comunicar sua ação climática estão planejando deliberadamente diminuir seu nível de comunicações externas.

Essa contradição, segundo a South Pole, é ainda mais exacerbada pelo fato de as empresas enxergarem as metas de redução como importantes para o sucesso comercial: quase metade (46%) delas disse que estavam buscando zerar emissões para atender às demandas dos clientes e melhorar o gerenciamento de riscos em todas as suas cadeias de suprimentos.

O medo do escrutínio dos investidores foi outra das principais razões para o ‘greenhushing’  pela maioria das empresas de serviços ambientais, bem como pelo setor de petróleo e gás (51% e 57%, respectivamente).

As consequências do greenhushing 

Embora o greenhushing tenha iniciado como uma forma de realizar, porém não divulgar metas ambientais de propósito para evitar críticas, os ataques diretos de Donald Trump às políticas ambientais trazem outro significado com a prática.

Em um ambiente econômico cada vez menos estimulado para expor boas práticas de preservação, multinacionais americanas podem simplesmente afrouxar ainda mais seus cuidados ambientais.

Este cenário leva a falta de transparência sobre as ações das empresas e, consequentemente, menor responsabilização e cobrança da sociedade civil a respeito de irregularidades. 

Além disso, investidores terão dificuldades em direcionar recursos para empresas verdadeiramente sustentáveis — fator que é pré-requisito de grupos de investimento voltados para a sustentabilidade.

As consequências também desequilibram economicamente a competição entre empresas, dado que aquelas que aplicam medidas de sustentabilidade podem arcar com custos maiores com as de concorrentes que não as tornam públicas. 

Como Trump reeleito pode estimular o greenhushing 

Ainda na campanha de reeleição, Donald Trump criticou amplamente o mercado de tecnologia limpa e programas de sustentabilidade, contrariando tendências globais de preservação e estimulando o greenhushing. 

Para o então candidato à presidência dos EUA, pacotes de leis como a Inflation Reduction Act (IRA) — um investimento de US$ 369 bilhões para redução das emissões de carbono nos EUA em até 40% em dez anos — não passariam de “uma fraude verde”. 

Assinada por Joe Biden em agosto de 2022, a lei estimularia a produção de energia limpa e a descarbonização de empresas, bem como redução nos custos de remédios e taxação proporcional de grandes fortunas.

Na corrida eleitoral, Trump também prometeu cortes consideráveis à agências regulatórias climáticas, como a Agência de Proteção Ambiental e o Departamento de Interior, responsável pelas políticas ambientais americanas. O político também prometeu flexibilização nas requisições para exploração de combustíveis fósseis.

Para líderes da questão climática, a nova gestão pode ameaçar objetivos globais de conservação ambiental e transição energética. Christiana Figueres, ex-diretora da ONU sobre o clima, declarou após a vitória do candidato:

“O resultado desta eleição pode ser visto como um golpe duríssimo às ações globais contra a crise climática. Mas isso não pode e não deve parar as mudanças para descarbonizar a economia e atingir os objetivos do acordo de Paris.”

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