Inflação volta ao foco; Fed indica pausa nos cortes

A ata da última reunião do comitê de política monetária do Federal Reserve indicou que o ciclo de corte de juros pode estar perto do fim – uma má notícia para o Brasil, que terá menos espaço para ver uma descompressão dos juros locais.
Por maioria, os participantes da reunião de dezembro do Fed cortaram a taxa básica em 0,25 ponto percentual – para uma faixa entre 4,25% e 4,5% ao ano.
Mas foi uma decisão apertada, registra a ata do encontro, com muitos dos diretores dizendo que havia razões para manter a taxa estável.
De acordo com a ata, o processo de convergência da inflação para a meta de 2% poderá “demorar mais do que o previsto” – entre outros motivos porque o mercado de trabalho e a atividade econômica não demonstraram a desaceleração imaginada.
“Os participantes indicaram que o comitê se encontra no ponto ou próximo do ponto em que seria apropriado desacelerar o ritmo do alívio monetário,” diz a ata.
Os efeitos das políticas de Donald Trump também já entraram no radar do Fed. Apesar de não citar o novo presidente, a ata comenta os possíveis impactos na economia das barreiras tarifárias e da queda no número de imigrantes.
“Quase todos os participantes julgaram que houve um aumento nos riscos de alta da inflação,” diz a ata. “Como razões para essa avaliação, os participantes citaram recentes números acima do previsto na inflação e os possíveis efeitos de mudança nas políticas de comércio e de imigração.”
Desde setembro, o Fed cortou os juros em 100 basis points – mas o mercado reagiu na direção contrária, com uma abertura dos juros longos.
Os yields dos títulos de 10 anos subiram mais de 100 basis points, de 3,6% para 4,7%.
“O mercado está nos dizendo algo,” disse o economista-chefe da Apollo, Torsten Sløk. “Será que isso se deve a preocupações fiscais? Será que há menor demanda externa pelos títulos? Ou talvez os cortes do Fed não tenham sido justificados.”
Em seus comentários diários, Sløk vem dizendo há tempos que a economia americana continua aquecida e o Fed teria se precipitado ao cortar os juros.
Pelos preços implícitos na curva de juros, o mercado dá praticamente como certo que o Fed não mexerá na taxa na reunião deste mês. A decisão será anunciada em 29 de janeiro.
Andressa Durão, economista do ASA, acha que a ata sugere que o cenário base ainda é de redução gradual dos juros no sentido de uma taxa neutra, mas indica também que o Fed “não terá pressa para chegar lá.”
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