Governo da Turquia reage a protestos com censura na TV, prisão de jornalistas e bloqueio de contas em redes sociais

Londres – A repressão à imprensa na Turquia, marca do governo de Recep Tayyip Erdoğan, foi intensificada após os protestos contra a prisão do prefeito de Istambul, com agressões a jornalistas que têm feito a cobertura e detenção de pelo menos 10 deles, segundo organizações de defesa da liberdade de imprensa.

Ao mesmo tempo, o caos que se instalou no país vem sendo ignorado pela mídia estatal controlada pelo governo, que faz ainda pressões sobre a mídia independente que noticia os protestos para silenciar a cobertura. 

De acordo com a Repórteres Sem Fronteiras, o Conselho Supremo de Rádio e Televisão da Turquia  (RTÜK)  emitiu um “aviso final” às emissoras nacionais críticas ao governo, ameaçando-as com multas severas e revogação de licença se continuarem a cobertura dos atos ao vivo ou exibirem programas criticando o governo. 

Mais de 10 jornalistas presos nos protestos contra o presidente da Turquia

A RSF afirmou em nota que desde o início da onda de protestos contra a prisão de Ekrem İmamoğlu — o principal rival do presidente Erdoğan —, que se espalharam por todo o país, pelo menos dez jornalistas foram fisicamente agredidos por forças policiais, e dezenas de outros foram atingidos por bombas de gás lacrimogêneo ou balas de borracha.

Nesta terça-feira (26), a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ, na sigla em inglês) informou que 11 profissionais de imprensa foram detidos após  batidas policiais em suas casas em diferentes cidades pela polícia turca. 

E que na tarde de 25 de março, os tribunais turcos ordenaram a prisão de sete dos jornalistas detidos: Yasin Akgül (AFP), Ali Onur Tosun (Now TV News), Bülent Kılıç (freelance), Zeynep Kuray, Kurtuluş Arı (İBB), Hayri Tunç e Gökhan Kam.

De acordo com a Media and Law Studies Association (MLSA), os jornalistas provavelmente foram enquadrados na Lei No. 2911 sobre Reuniões e Manifestações.

Erol Onderoglu, representante da RSF na Turquia, condenou “nos termos mais fortes” a repressão violenta aos profissionais da mídia que cobrem os protestos.

“Esses ataques e restrições à liberdade de imprensa devem parar imediatamente e todos os responsáveis por essa violência devem ser identificados e levados à justiça.

Exigimos que os jornalistas detidos sejam libertados e pedimos ao ministro do Interior, Ali Yerlikaya, que tome medidas para garantir que as forças da lei e da ordem respeitem o direito da população à informação.”

Agressões a jornalistas da Turquia em protestos por prisão de prefeito 

Os casos relatados envolvem profissionais de imprensa de meios de comunicação locais e internacionais. 

Entre os alvos da repressão apontados pela RSF estão os repórteres do jornal BirGün, Ebru Celik e Deniz Gungor, e o repórter da Agência Anadolu, Murat Sengul, severamente agredidos pela polícia de choque, que os socou, chutou e esmurrou.

Eylül Deniz Yasar, do canal Ilke TV, e o fotojornalista Kemal Aslan foram alvo de balas de borracha e gás lacrimogêneo disparado em seus rostos enquanto cobriam o comício em frente à sede da prefeitura de Istambul. 

Na noite de 21 de março, enquanto cobriam a repressão policial a jovens manifestantes perto do Sarachane Park, Yasin Akgul, da AFP, Hakan Akgun, da Agência Anadolu, e Dilara Senkaya, da Reuters, sofreram violência policial, de acordo com a organização de liberdade de imprensa.

Senkaya levou socos na cabeça e Hakan Akgun foi hospitalizado com o nariz quebrado. Ali Dinc, do site de notícias Bianet, foi atacado enquanto registrava uma reunião de estudantes em frente ao campus da Universidade de Istambul. 

Ele relatou a agressão à RSF: 

“Éramos quatro jornalistas. Eles  [os policiais] nos encurralaram no Sarachane Park. Como eu estava com máscara, não fui afetado pelo gás lacrimogêneo, mas eles começaram a nos bater mesmo quando seguramos nossas câmeras para mostrar que éramos jornalistas.

Fomos claramente visados por esse motivo. Fiquei com lesões nas pernas e nas costas.”

Ameaças e sanções do Conselho de Rádio e TV turco

Para tentar conter as notícias sobre as manifestações, que já resultaram na prisão de mais de 1,1 mil pessoas, o governo Erdogan está agindo em duas frentes: enquanto as TVs estatais ignoram os acontecimentos em seus noticiários, o Conselho Supremo de Rádio e Televisão da Turquia (RTÜK) exerce pressão sobre a mídia independente.

No dia 23 de março, o presidente da RTÜK, Abubekir Şahin, emitiu um “aviso final” às emissoras nacionais críticas ao governo, ameaçando-as com multas severas e revogação de licença se continuassem a cobertura ao vivo de sites de protesto ou programas transmitidos criticando a resposta do governo, de acordo com a Repórteres Sem Fronteiras. 

Segundo a organização, o conselho já havia sancionado as redes Now TV, Tele1, Halk TV e SZC TV em 20 de março, ordenando que pagassem multas equivalentes a 3% de sua receita publicitária do mês anterior, devido a programas e reportagens críticas sobre a prisão de Ekrem İmamoğlu.

As transmissões da SZC e da Halk TV foram suspensas em três ocasiões separadas, afirmou a RSF. 

Redução da banda larga e bloqueio a contas em mídias sociais

Além desses obstáculos, a entidade aponta que jornalistas e atores da sociedade civil baseados em Istambul foram severamente afetados pelo redução da velocidade de conexão à internet durante os dois primeiros dias dos protestos, e esporadicamente nos dias que se seguiram.

A diminuição teria sido uma ordem direta do gabinete presidencial e chegou a interromper plataformas como Instagram, Facebook e WhatsApp. 

A Federação Internacional de Jornalistas informou que as autoridades turcas ordenaram que a plataforma de mídia social X bloqueie 700 contas, incluindo a conta em língua turca do meio de comunicação on-line independente Bianet sob uma ordem judicial citando “segurança nacional e ordem pública”, assim como as da Gazete Yolculuk e do Middle East Eye.

A Turquia ocupa o 158º lugar entre 180 países no Índice de Liberdade de Imprensa 2024 da Repórteres Sem Fronteiras. 

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