OJ for breakfast? Cada vez mais os americanos dizem “no, thanks” 

O hábito de beber suco de laranja no café da manhã nos Estados Unidos foi uma invenção da publicidade. Criado no início do século passado para ajudar a escoar a produção de uma marca da Califórnia, o slogan “Drink an orange” vendia a ideia de começar o dia tomando um copo de vitamina C – e acabou redefinindo o breakfast no século 20.
Mas os dias de glória do OJ – como o orange juice é conhecido por lá – parecem estar contados.
Nos últimos 20 anos, o consumo de suco de laranja nos Estados Unidos azedou. O consumo per capita despencou de quase 20 litros/habitante/ano para apenas 8. 
Os americanos têm preferido bebidas mais baratas e menos calóricas nos últimos anos – e isto ocorre em paralelo a uma profunda mudança estrutural na citricultura na Flórida, a principal região produtora no país.
Segundo o Departamento de Agricultura, a atual safra de laranja da Flórida produzirá apenas 12 milhões de caixas – a menor safra desde 1930. Em 2004, a produção atingiu o patamar recorde de 242 milhões de caixas. 
A Alico – uma empresa centenária, uma das maiores produtoras de laranja da Flórida e fornecedora da Tropicana – anunciou no início do mês que vai encerrar sua operação de cítricos. A produção de laranja da companhia caiu 73% nos últimos dez anos, e a próxima colheita será a última. 

Como quase todos os citricultores da Flórida, a Alico vem sofrendo o impacto severo dos furacões e do greening, uma doença bacteriana que não tem cura e leva à queda prematura das frutas nas plantações e derruba a produtividade das fazendas; o Brasil também sofre com a praga.
“O impacto dos furacões Irma em 2017, Ian em 2022 e Milton em 2024 em nossas árvores, já enfraquecidas por anos de doença do greening dos cítricos, levou a Alico a concluir que o cultivo de frutas cítricas não é mais economicamente viável para nós na Flórida,” disse John Kiernan, o CEO da Alico. 
A empresa agora planeja focar em uma estratégia de uso diversificado de terras e desenvolvimento imobiliário a longo prazo. 
“Há tempos que a produção da Flórida vem caindo. Além da menor competitividade em relação ao Brasil, os furacões ajudaram a espalhar o greening. A dificuldade de combater a doença e a pressão imobiliária transformaram fazendas de laranja em condomínios residenciais. O setor não deve voltar mais ao que já foi no passado,” Marcos Fava Neves, o engenheiro agrônomo e professor da USP, disse ao Brazil Journal.
O início do declínio da citricultura americana começou em 2005, quando foi registrado o primeiro caso de greening na Flórida, um ano depois da doença originária da China chegar ao Brasil. Uma vez infectadas, as árvores param de produzir em cerca de cinco anos. 
Enquanto os americanos buscavam uma cura para o greening, o Brasil adotou uma estratégia diferente, investindo no manejo dos pomares, ainda que o impacto econômico também seja relevante por aqui.
Com o avanço da infestação lá, os agricultores americanos também deixaram de investir na renovação de pomares. O custo de formação de uma área de laranja é de US$ 10 mil por hectare, que leva cerca de cinco anos para começar a produzir. Ou seja, o risco de investir alguns milhões de dólares e descobrir que o pomar já estava com greening antes mesmo de começar a produzir se tornou alto demais.
Enquanto a citricultura na Flórida vai se apequenando, o Brasil segue na liderança global na produção de laranja. A expectativa é que a safra 2024/2025 alcance 223 milhões de caixas, uma redução de 27% em comparação ao período anterior por causa da seca que atingiu sem piedade os laranjais de São Paulo e Minas. 
Com menos fruta disponível no Brasil e nos EUA, o preço do suco concentrado atingiu a máxima histórica. Em setembro, o contrato futuro em Nova York – vencimento em março – bateu US$ 5,55 por libra, três vezes o preço médio de 2021, e fechou ontem em US$ 4,83/libra.

Números da CitrusBr, a associação que reúne os processadores de suco de laranja no Brasil, mostram que houve uma queda de 19,7% no volume exportado entre julho e dezembro de 2024 (metade da safra em curso), em comparação com o mesmo período no ciclo anterior. O faturamento, porém, somou US$ 1,9 bilhão, um aumento de 42,7%. 
“O preço suco de laranja oscilava entre US$ 2,4 mil e 2,5 mil a tonelada. Quando batia US$ 2,7 mil era um negócio excelente. Hoje, está em US$ 8 mil a tonelada”, diz Ibiapaba Netto, diretor da CitrusBr.  “O problema dos preços muito altos é que eles viabilizam concorrentes, que nem precisam ser competitivos para se remunerar.”
O novo competidor que desponta no mundo da citricultura é o Egito, que tem um plano agressivo de produzir 120 milhões de caixas de laranja até 2027, 30% a mais do que no ano passado. Em pouco mais de uma década, o país aumentou em 60% a oferta da fruta.
Segundo Netto, o Egito é, sem sombra de dúvida, mais competitivo que o Brasil. Lá não tem greening, os custos de mão de obra são mais baixos, e a relação de câmbio é melhor – por incrível que pareça. “Não me lembro de nenhum período em que o Brasil fosse menos eficiente do que algum concorrente. É algo inédito.” 
Saem os americanos de cena, entram os egípcios na disputa pelo bom e velho OJ. Mas o Brasil ainda deve se manter por um bom tempo no topo da citricultura global.
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